Ciência, Educação e Oportunidade: O Que Aprendemos com Jovens de Atibaia que Chegam à NASA

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Coluna por: Iago Yoshimi Seo

Recentemente deparei-me com um vídeo nas redes sociais, que, a princípio, parecia inocente e divertido, mas que se desenrolou como um diagnóstico preocupante da educação no Brasil. Um rapaz com sua câmera foi a uma festa universitária entrevistar discentes de medicina, e testar seus conhecimentos básicos na área. As perguntas que para um público mais amplo e desconhecido do assunto pode parecer um pouco difícil de fato, de nada desafiador deveria ser para esses alunos que estão na querência do ensino superior. 

O entrevistador perguntava coisas como “qual hormônio responsável por regular o sono”, ou “como se chama inflamação do fígado”. Por duas vezes sobre essa última os alunos responderam “pancreatite”, que, na verdade, é a inflamação do pâncreas. A resposta esperada para a inflamação no fígado deveria ser hepatite.

A confusão poderia ser justificada se o entrevistador tivesse se virado para um aluno de engenharia espacial ou de letras, mas como justificar para um aluno de medicina?

Essa introdução foi necessária pois assisti a esse vídeo horas antes de eu ir conhecer dois jovens de Atibaia que foram para a NASA, e aqui mora o contraste que abre essa coluna. Enquanto os adultos nos vídeos eram alunos do primeiro ao nono período de medicina, os alunos do colégio FAAT, com idades de 13 e 15 anos são destaque, inclusive com medalhas em olimpíadas de matemática.

Dois estudantes de Atibaia, Nicolas Vinicius, de 13 anos, e Fábio Shanji, de 15, participaram de um programa no NASA Space Center Houston, no Texas, após se destacarem em competições e rendimento acadêmico. Um medalhista em olimpíadas de matemática, e outro destaque em notas, os alunos do colégio FAAT foram premiados com a oportunidade de conhecer um dos maiores centros de pesquisa espacial do mundo.

Nicolas relatou que seu interesse por astronomia surgiu cedo, ao estudar sobre a formação da Terra. Ao ingressar na escola, integrou o clube de astronomia e começou a participar de competições. O esforço lhe rendeu uma medalha de prata em uma olimpíada da área. Fábio, por sua vez, revelou que, apesar da afinidade com exatas, não tem preferência específica por uma disciplina, mas mantém o foco no aprendizado.

Ambos foram questionados sobre como outros estudantes poderiam alcançar conquistas semelhantes. A resposta foi unânime: disciplina e foco. 

Aqui temos outra palavra para isso, o pragmatismo. Para eles, a chave do sucesso acadêmico está em maximizar o aprendizado dentro de uma área específica e desenvolver habilidades práticas.

O contraste com a realidade educacional brasileira é evidente. Enquanto alguns alunos se destacam internacionalmente, outros demonstram dificuldades mesmo em áreas fundamentais do ensino superior, cujo curso foi escolhido livremente por sua graça. Não se trata de uma maior valorização dentre certos campos do que outros, sejam exatas, humanas ou biológicas, mas algo mais estrutural na educação nacional. Do mesmo modo, a questão que se impõe não é apenas de investimentos, mas de uma reformulação metodológica no ensino. 

Em 2024, o Brasil ficou entre os piores em teste de criatividade do Ranking PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), criada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil registrou 23 pontos, dez abaixo da média da OCDE. A vias de comparação, Singapura que liderou o ranking ficou com 41 pontos.

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) incluiu, em sua edição mais recente, um módulo para medir o pensamento criativo dos participantes. O exame, aplicado a alunos de 15 a 16 anos que tenham ao menos seis anos de educação formal, analisou a capacidade dos estudantes de gerar, avaliar e aprimorar ideias de maneira original e eficaz.

Entre as tarefas propostas, os participantes tiveram que sugerir títulos para uma pintura e criar diálogos para uma sequência de imagens em quadrinhos. A metodologia adotada parte do princípio de que o pensamento criativo pode ser desenvolvido pela prática e se manifesta em diversos contextos.

A educação deve priorizar a capacitação para a solução de problemas, ao invés da mera instrução teórica, pois é o que conta quando os alunos saem dos muros das escolas. A educação básica, com as instruções adequadas, são os pilares mais que fundamentais para justiça social e o desenvolvimento de uma sociedade guiada ao progresso, e que assim possamos criar mais “Nicolas” e “Fábios” para as outras áreas acadêmicas.