Em Bragança Paulista a luta pela conscientização do autismo é intensa e já apresenta bons resultados, principalmente quando se trata de inclusão social e mercado de trabalho.
Gabriel Capozzoli, 20 anos, foi diagnosticado com o Transtorno de Espectro Autista (TEA) quando tinha apenas quatro anos. A mãe Olga Picarelli Capozzoli, de 52, desconfiou dos sintomas e logo procurou ajuda. “Ele tinha algumas dificuldades quando se tratava de necessidades fisiológicas e se referia a ele mesmo na primeira pessoa. Quando procuramos ajuda, a médica nos informou que ele tinha o transtorno”, lembra. Na época, a professora aposentada travou uma intensa busca por tratamentos que amenizassem os sintomas e que permitissem que Gabriel tivesse uma vida normal.
Ao longo dos anos ela chegou a trocá-lo de escola para acompanhar de perto a educação do filho. “Tínhamos muito medo de que ele sofresse bullying e isso atrapalhasse ainda mais o seu desenvolvimento. Mas Gabriel sempre foi muito bem articulado e nas poucas vezes que se sentiu contrariado ou constrangido com alguma situação, soube se posicionar”, conta.
Assim que concluiu os estudos, Gabriel informou à família que estava pronto para trabalhar. Na época, a família começou a busca por um emprego que valorizasse suas características e, entre elas, excelente relacionamento com as pessoas. “Nós chegamos a conseguir uma vaga em uma fábrica famosa de Bragança Paulista, mas não era isso que ele queria. Foi então que o McDonald’s o convidou para uma entrevista”, explica Olga.
Em pouquíssimo tempo no restaurante, a simpatia de Gabriel conquistou a equipe e fez com que ele fosse promovido a Embaixador da Experiência do Cliente. Recentemente e completando um ano e sete meses na empresa, ele ganhou ainda mais destaque em um vídeo gravado pelos colegas de trabalho e que viralizou na cidade. Nele, Gabriel explica como separar o lixo orgânico do reciclável de forma extremamente clara e profissional.
“Falei que ele ficaria conhecido por ser um exemplo de superação e ele me disse que mais importante é que as pessoas saibam a necessidade de separar os lixos para reciclagem”, conta a mãe orgulhosa. Olga revela ainda que hoje Gabriel estuda inglês e paga o curso que faz em casa com o próprio salário. “Guardamos metade para a aposentadoria privada dele. O curso ele nunca nos deixou pagar. É um menino muito focado e que nos deixa com um enorme orgulho e sensação de dever cumprido”, diz. Há oito anos, ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e ele foi quem cuidou da mãe diariamente. “Ele me dava banho, me penteava.
Cuidou de mim e sempre reforçava diante das dificuldades a frase: Aceita que dói menos”, conta.
Trabalhar no McDonald’s, segundo a mãe é a realização de um sonho. “Primeiro porque a rede nos abriu as portas sem nenhum tipo de preconceito e de braços abertos. Segundo porque ele passou a infância frequentando o McDonald’s e sempre foi um dos seus restaurantes prediletos. Não é só um emprego, é a realização de um sonho mesmo”, afirma Olga.
Nas horas vagas, Gabriel participa de voluntário no projeto ‘Rir para Sarar’ na Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista, levando aos pacientes alegria, respeito e amor. “Ele sabe a importância de fazer algo pelo próximo e isso é incrível uma vez que uma das maiores caraterísticas do autismo é a introspecção”, reforça a mãe.
A evolução de Gabriel foi tão grande nos últimos anos, que no dia 2 de abril, Dia Mundial do Autismo, ele participará de uma palestra na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista falando sobre o transtorno e mostrando alguns dos desenhos que faz, afinal esse é um dos hobbies mais queridos dele.
Exceção à regra
Para a empresária Ana Paula Monteiro Abdalla, franqueada operadora da rede em Bragança Paulista e Atibaia, ter Gabriel na equipe é resultado de uma experiência pessoal. Um dos irmãos dela é deficiente visual e desde pequena ela entendia suas limitações, mas o tratava com igualdade perante os demais.
“A inclusão social é muito importante para mim. Além do meu irmão tenho outras pessoas com deficiência na família e todas elas são grandes exemplo de independência”, avalia.
Além de Gabriel, ela contratou outro jovem com autismo há três semanas. “João Carlos é formado em pedagogia, está fazendo faculdade de letras”, ressalta.
“A Olga, mãe do Gabriel, é um grande exemplo a ser seguido. Vivemos em uma cidade pequena e muitas vezes os pais ou tutores não enxergam os benefícios da inclusão no mercado de trabalho e acabam impedindo um crescimento ou desenvolvimento. É preciso chamar a atenção da sociedade para isso”, alerta Ana Paula.
Ela afirma ainda que a contratação do Gabriel foi uma via de mão dupla. “Ele absorveu completamente um dos nossos principais pilares que é o da responsabilidade socioambiental. Isso é um privilégio e é impressionante como ele contagia todos a sua volta”, conta.
“O desenvolvimento do Gabriel não é mérito apenas da oportunidade, mas da família que o apoiou e dele mesmo, que é extremamente dedicado e encara os desafios com muita responsabilidade”, conclui.