Professores e pais de alunos do IF se reúnem para discutir a possibilidade de retomada das aulas

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Texto: Iago Seo e Mauricio Santos

Na última noite de terça-feira (28), pais de alunos do Instituto Federal de Bragança Paulista (IFSP) se reuniram com professores, diretores e coordenadores para discutir a retomada das aulas. O corpo docente responsável pelo ensino médio está em greve há cerca de dois meses.

Os pais questionaram o fechamento do Instituto Federal para os alunos do ensino médio, enquanto as aulas continuam apenas para os estudantes de cursos superiores.

Na reunião, os professores relataram que não há condições de receber os alunos para suas respectivas aulas devido a muitos pontos desfavoráveis. Entre os principais motivos estão a defasagem dos salários, que vem sendo discutida com o governo federal desde 2014, e a falta de segurança para os jovens e adolescentes.

“Estamos pedindo uma educação pública de qualidade para futuras gerações. Porque se a gente não garante isso, os efeitos negativos vão aparecer no futuro. Estaremos concorrendo para que a educação brasileira se precarize ainda mais. Um evento de greve visa a longo prazo, um padrão mínimo de qualidade que a lei determina”, disse Enteni Belchior, técnico de assuntos educacionais do IF e o representante sindical dos professores.

O que dizem os pais dos alunos?

Por outro lado, os pais presentes reivindicaram o direito dos alunos de estudar, argumentando que o prejuízo já está sendo enorme. Expressaram preocupação com o tempo perdido, enfatizaram que o comando de greve iniciou a paralisação sem oferecer um plano de reposição de aulas convincente. Os pais afirmaram que não é justo os professores estarem em greve e os alunos em casa, com o campus de Bragança Paulista fechado, enquanto os professores continuam recebendo seus salários.

“A ferramenta de greve para conquista de direitos acaba tendo pouco resultado. Acaba sendo desproporcional, uma grande perda para poucos ganhos. A gente veio em uma reunião para tentar a volta, mas a gente viu que eles não estão sensibilizados para isso”, iniciou o pai de um aluno.

Os professores à frente do comando de greve deixaram claro que a paralisação não tem previsão para acabar e que não depende deles. Afirmaram que o governo federal é o maior responsável por essa situação e que a greve é o único mecanismo para pressionar por atualizações salariais e uma retomada das aulas.

O clima esquentou entre professores e pais na reunião. Uma mãe, apelou com lágrimas nos olhos, dizendo que a educação no Brasil está sofrendo retrocessos e que a greve não mudará a realidade. Mencionou que os estudantes já estão ansiosos e apresentando sinais de depressão.

“O IF ele propõe aos alunos um período de aula integral. E você de uma hora pra outra, fechar as portas daqui, gera uma lacuna muito grande. É um espaço de tempo aqui muito grande que o adolescente fica sem pé, sem saber o que fazer, durante esse tempo todo”, expressou o pai de um aluno.

A preocupação com os filhos e os alunos 

Muitos pais relataram a preocupação de que a greve está prejudicando diretamente os estudantes, especialmente os do terceiro ano, que buscam um futuro melhor e escolheram o IFSP – Bragança Paulista como uma grande referência. No entanto, devido a históricos anteriores de paralisações e agora essa greve sem previsão de retorno, a credibilidade do IFSP – Bragança Paulista está sendo questionada.

Alguns pais que moram em outros municípios argumentaram que, além de continuarem pagando transporte escolar, seus planejamentos familiares estão desestruturados. Não sabem como será nas férias que se aproximam, sem confirmação de aulas e sem certeza sobre a continuidade da greve, o que impede o planejamento para reorganizar a rotina e amenizar as perdas que prejudicam o futuro dos estudantes a cada dia.

Os pais solicitaram uma lista com os nomes dos professores que aderiram à greve e dos que não aderiram.

Linha do tempo da greve

  • Em 15 de abril deste ano, professores dos institutos federais (universidades federais e centros de ensino) iniciaram as greves, reivindicando um reajuste salarial de 22% entre 2024 e 2026. Além disso, a classe acentuou sobre as condições de trabalho, e investimento nos institutos;
  • Um mês depois do início das greves, em 15 de maio, o Governo Federal propôs um aumento de 13,3% até 2026, porém, o aumento iria começar em 2025 e iria até 2026. Somado ao reajuste de 9% concedido ao funcionalismo federal em 2023, o reajuste chegaria a 21,5% em 2025.
  • A proposta não foi bem aceita por parte dos grevistas, que solicitaram o reajuste salarial a partir de 2024, e alguns institutos federais do Brasil mantiveram a greve, enquanto outros retomaram as atividades.
  • Nesta segunda-feira (27), representantes do Governo Federal  e dos docentes das instituições se reuniram em Brasília para assinar o acordo de negociação do reajuste. O acordo prevê agora um aumento de aproximadamente 28,2% para os professores.

Entenda como funcionará o reajuste

O acordo de reajuste foi feito com a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (PROIFES). Ele prevê um aumento de aproximadamente 28,2% para os professores até 2026. Vale ressaltar que:

  • O reajuste será pago inicialmente em duas parcelas:
    • Janeiro de 2025: 9%
    • Maio de 2026: 3,5%

Além disso, haverá uma reestruturação na progressão entre os diferentes níveis da carreira. Somado ao reajuste de 9% concedido em 2023, a proposta de valorização da carreira docente até 2026 representa um aumento significativo para os professores.

O salário inicial de um docente com doutorado passará para R$ 13,7 mil. Antes do aumento concedido em 2023, um professor em início de carreira, atuando 40 horas, recebia R$ 9,9 mil. Já o salário para professor titular, no topo da carreira, passará de R$ 20.530 (valor de abril de 2023) para R$ 26.326 em 2026.