Coluna por Iago Seo.
Coluna por Iago Seo.
Na última terça-feira (14), a Secretária de Saúde de Atibaia, Grazielli Bertolini, esteve presente durante uma entrevista com a turma de jornalismo do último ano do Centro Universitário UNIFAAT. Os alunos realizaram uma sabatina, onde cercaram a secretária de perguntas sobre a demanda da saúde na cidade. A secretária respondeu às perguntas dos alunos durante a coletiva.
Pessoalmente, procurei uma forma de transformar essa mera atividade para nota em uma pauta contundente, e extrair da secretária o que as pessoas querem saber. Esse foi o maior desafio.
Diferentemente do que possam pensar, não é querer procurar “pelo em ovo”, ou gostar de “colocar os outros em saia justa”. Pelo contrário. Dizia a filosofia de Jeremy Bentham que “o governo não deve descansar até que todos estejam satisfeitos, o que jamais acontecerá. Isso significa que sempre haverá o que ser feito”. No dia que o Estado descansar, será o dia em que a humanidade alcançará a entropia do divino e do ideal (o que é mera fantasia).
A grande questão que fui disposto foi: Como um jovem de classe média, com plano de saúde, que nunca frequentou uma UPA ou UBS poderia questionar o Estado sobre a realidade do povo? A resposta não poderia ser mais óbvia: visitar e perguntar para as pessoas que estão na linha de frente desses locais.
O que dizem os munícipes sobre a Santa Casa?
Antes da intervenção de junho de 2022, munícipes chegaram a condenar veementemente a administração da Santa Casa por meio das redes sociais. Alguns comentários apontavam a falta de proximidade das autoridades públicas com a própria sociedade civil
“Esse senhor deve ter pouco ou nenhum contato com a Santa Casa, pois sua fala não condiz com a realidade. É o uso do discurso infundado. O Senhor Secretário [interventor, Takao Watanabe], bem como o Senhor Prefeito, precisam estar próximos da população e perto desse setor. Todos os anos Atibaia recebe verbas para Santa Casa, contudo essa instituição nunca cresce no sentido qualitativo de seus atendimentos.”, escreveu uma munícipe indignada sobre o antigo interventor, Takao Watanabe.
Nas redes, outros comentários como “Santa Casa de Atibaia é sucateada demais. Tá superlotada desde sempre e muitas vezes sem o mínimo” tomam as linhas e pixels da tela.
Não é só a Santa Casa, mas outros centros
Os comentários não se limitam apenas aos munícipes indignados, mas aos próprios profissionais de certas unidades de saúde pública. Alguns colaboradores da USF Rio Acima, localizado próximo ao bairro do portão, passam por dificuldades para chegar até o centro de atendimento em dias de chuva. Alguns relatam que o SAMU possui dificuldades de chegar até o local durante uma emergência por conta da falta de asfaltamento adequado.
Vale ressaltar que em dia de chuvas, a Polícia Rodoviária Federal estima que as chances de acidentes nas rodovias aumentam em 40%. Em uma emergência que ocorra na Rodovia Fernão Dias, por exemplo, a USF Rio Acima estaria a poucos minutos para atender prontamente um paciente. Porém, a realidade é outra. O que poderia ser minutos, poderá ser horas, somente pela trajetória de passar pelas poças de lama na Avenida Maria Luiza Rocca Borges.
A Secretária de Saúde conta a realidade da Santa Casa
Com todas as informações e depoimentos, direcionei as perguntas para a Santa Casa. Existe um efeito cascata nas políticas públicas quando sondadas pela opinião pública. Ao tratar da Santa Casa, os esforços para mitigar as críticas e expandir melhorias, não são somente para o centro, mas para as áreas periféricas também. Novamente, enquanto todos não estiverem satisfeitos, sempre haverá o que ser feito.
Em junho de 2022 a Santa Casa de Misericórdia passou por uma nova intervenção. O prefeito Emil Ono anunciou a substituição de Lauro Takao Watanabe e a criação de um plano de ação para reestruturar o local. Em 27 de junho fará dois anos desde que o decreto 10.004 veio a ser sancionado. E mesmo com a nova intervenção, as críticas não cessaram.
Vale ressaltar que uma intervenção é necessária quando há má gestão ou problemas administrativos. Uma intervenção parte parte do poder público ou órgãos reguladores. Nesse caso, um interventor é nomeado para administrar a instituição temporariamente até a reorganização da gestão. O último decreto, publicado em junho de 2022 substituiu o decreto de Intervenção nº4.058, sancionado em 26 de outubro de 2001, 21 anos antes da segunda intervenção.
“As críticas nunca vão cessar. A falta de acessibilidade é um problema. As cheias de pacientes são sazonais, e não há estrutura. Outro desafio são as verbas”, comentou a secretária. Quando questionada sobre a situação da dengue na cidade, ela diz: “Para o gestor público, uma pessoa morrer de dengue é uma incapacidade do sistema”.
Ela reforça que a situação da Santa Casa é estrutural, e que o local já não mais suporta a alta demanda pelo crescimento populacional em Atibaia. Segundo o Censo do IBGE de 2022, a população de Atibaia chegou a 158.640 pessoas, o que representa um aumento de 25,31% em relação a 2010. Com isso em mente, um novo hospital municipal seria necessário para desafogar a alta centralização de pacientes da Santa Casa.
Nesse momento, a visão realista da secretária foi notória para esse que vos fala. Ela encarou as perguntas de maneira pragmática e contundente, algo que particularmente não tive boas experiências na minha curta carreira quando questionando autoridades.
Problemas com a construção do novo Hospital Municipal
Ainda durante a sabatina, a secretária deixa claro que a nova ampliação na Santa Casa não está sendo feita em termos estruturais, mas sim, administrativos. Ela ainda comenta sobre as contingências relacionadas ao novo Hospital Municipal.
Em 2021, a página oficial da Prefeitura de Atibaia publicou a imagem do esboço do novo hospital, com os dizeres “Estamos perdendo muito com a paralisação das obras do Hospital Municipal…No entanto, atualmente, as obras estão paradas devido à ação judicial, já contestadas pelo executivo”. Em maio de 2023, o Tribunal de Justiça de São Paulo concluiu por 3 votos a 0 que não houveram irregularidades no contrato para a construção do hospital.
No mês seguinte, as tratativas para a construção do Novo Hospital puderam prosseguir após o embargo judicial. Porém, o desafio agora é outro. Segundo a secretária, os valores estão sendo renegociados com a empreiteira, pois foram cotados com base na inflação e valorização da moeda de 2020, o que pode atrasar novamente a construção do novo centro. Em 28 de junho de 2023, o representante legal da empresa e o corpo jurídico declararam interesse na retomada das obras, desde que restabelecido o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.
Quase um ano após a regularização judicial para prosseguir a construção do novo centro, a sociedade civil precisa aguardar a benevolência dos contadores da empreiteira, logo em ano eleitoral.